Anpuh

Anpuh

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Conheça a história Maximiliano de Habsburgo, o imperador ingênuo


Junte um nobre da maior monarquia europeia que não tem a quem governar e um vasto país imerso no caos político que procura um rei. O resultado: um final infeliz

Texto Wagner Gutierrez Barreira | 01/04/2012 17h45



Ele era arquiduque da Áustria, irmão do imperador austro-húngaro Francisco José e por isso, ao nascer, o primeiro na linha sucessória. Casou-se com Carlota, filha de Leopoldo I, soberano da Bélgica e um dos homem mais ricos da Europa. Maximiliano de Habsburgo pertencia à Familia real mais importante do período - a mesma da imperatriz Brasileira Leopoldina, ele era primo de dom Pedro 2º. Conta-se que se apaixonou por Amália, irmã do imperador brasileiro, que morreu antes que eles anunciassem o romance. Gostava de pintura, de poesia e de história e dominava 7 idiomas. O sogro pressionava para que conduzisse um Estado e seu primeiro posto como autoridade foi o vice-reinado de Lombardo-Veneto, no norte da atual Itália, entre 1857 e 1859. Mas os italianos estavam em guerra com os austríacos por independência, derrotaram Maximiliano e ele decidiu retirar-se da vida pública. Foi com a mulher para o castelo que construíra em Trieste, chamado Miramar, e ficaria por lá cuidando das coisas de que realmente gostava, como a literatura, não fosse envolvido pelas teias da História. Uma estranha história, que acontecia do outro lado do Atlântico.



O fuzilamento do imperador, por Manet, amigo de Maximiliano.

O México foi um dos primeiros Estados da América Latina a conseguir a independência, em 1810. Mas desde seu nascimento como nação viu-se às voltas com uma vida política polarizada, dividido entre liberais e conservadores. Em 1857, o liberal Benito Juárez era o presidente eleito, depois de aprovar uma Constituição que garantia a divisão política entre os 3 poderes e a liberdade de expressão. Mas o general conservador Félix Zuloaga ocupou parte do país e começou uma guerra civil. Quatro anos depois, os liberais venceram, unificaram o México e expulsaram bispos, o arcebispo e o representante da Espanha, que haviam apoiado os conservadores - e resolveram dar um calote na dívida externa.

A decisão caiu como uma bomba nos países que tinham dinheiro a receber do México. Napoleão 3º, da França, convocou representantes da Espanha e da Grã-Bretanha, que decidiram bloquear os portos mexicanos para forçar o pagamento da dívida. "Os monarquistas mexicanos residentes na Europa tentaram interessar o imperador francês a tomar parte em um projeto monárquico", escreveu a historiadora Josefina Zoraida Vázquez no livro Nueva Historia Mínima de México. "O imperador francês sonhava em construir um império "latino" que servisse de muro de contenção à expansão anglo-saxônica." Napoleão invadiu o país em abril de 1862. Em 19 de julho, uma assembleia de notáveis proclamou o império. Só faltava achar um imperador.

Maximiliano era o cara. Jovem, popular e sem mandato na Europa, foi visitado pelos monarquistas mexicanos, mas refugou. "Só se for a vontade dos mexicanos", disse. Os monarquistas recolheram milhares de assinaturas. Os franceses fizeram um plebiscito na capital mexicana ocupada que, óbvio, deu a vitória à Maximiliano. No dia 10 de abril de 1864, com o endosso do papa e do imperador francês, ele finalmente aceitou o trono. Havia um bom modelo a seguir - a estável monarquia brasileira de seu primo Pedro II.

Quando chegou à Cidade do México, foi recebido com festa até por liberais moderados, que imaginavam estar diante de uma chance de garantir alguma ordem política ao país. Só que o novo imperador era liberal de coração. E as coisas começaram rapidamente a degringolar. Primeiro, garantiu liberdade de culto e manteve a apropriação dos bens do clero. Tal decisão tirou o apoio que recebia de muitos conservadores. Maximiliano não se preocupou. Tratou de embelezar a capital, com a criação de novos parques e passeios e cuidou de questões importantes: devolveu terras a povos indígenas, aprovou uma jornada de trabalho de 10 horas diárias no máximo, proibiu castigos físicos e aplicou dinheiro em educação e ciência. Tudo isso com capital francês, emprestado por Napoleão 3º - e com tropas francesas, que permaneceram no país para sustentar o imperador. Alguns historiadores o tratam como um mero fantoche de Napoleão 3º. Mas em seus escritos é notável a vontade de ser aceito pelos mexicanos. Um desejo ingênuo: os conservadores queriam um monarca forte e retiraram seu apoio por causa de seu comportamento liberal. Os liberais eram republicanos - e não tinham por que aceitar um imperador, ainda mais estrangeiro.

Mesmo sem sustentação interna, Maximiliano fazia um governo que ia razoavelmente bem, mas no fim de 1865 aconteceram algumas mudanças. Em primeiro lugar, o vizinho do norte se mexeu. Com o fim da Guerra Civil americana, Benito Juarez, que organizou guerrilhas no interior do país desde a chegada do imperador, conseguiu levantar dinheiro e apoio nos EUA. O governo francês, que sustentava Maximiliano, foi pressionado a deixar o país pelos americanos. Napoleão 3º recolheu as tropas - os movimentos do imperador do México estavam mais voltados a um governo de união nacional do que servir aos interesses da França. O irmão do imperador cogitou enviar 4,5 mil soldados austríacos, mas os americanos ameaçaram com uma guerra. A imperatriz Carlota tentou ir à Europa para manter acordos com Paris e o Vaticano que sustentavam o marido no poder - foi impedida e enlouqueceu. Maximiliano pensou em abdicar ao trono, mas seus ministros o fizeram mudar de ideia -dentro em breve, eles o abandonariam.

No começo de 1867, as forças republicanas avançavam rapidamente. O imperador fugiu para Querétaro, mas acabou capturado com os dois únicos generais que se mantiveram fiéis a ele. Julgado por um conselho de guerra, foi condenado à morte. Escreveu cartas para a mulher e a mãe e encarou o pelotão de fuzilamento, não sem antes fazer votos "para que meu sangue acabe com as desgraças de minha nova pátria". Morreu em 19 de junho de 1867, aos 34 anos. Para a história, ficou o registro de um amigo de Maximiliano, o impressionista Édouard Manet, que pintou seu fuzilamento.

Saiba mais

Livro

Nueva Historia Mínima de México, El Colegio de México, 2004

Nenhum comentário:

Postar um comentário