24/11/2014 10h22
- Atualizado em
24/11/2014 11h04
Petrolândia, em PE, teve cidade inundada para construção de hidrelétrica.
Seca tem afetado fruticultura irrigada e piscicultura do município do Sertão.
Vestígios do antigo nível das águas na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Petrolândia antes da estiagem podem ser percebidos (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Há 26 anos a velha cidade de Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, foi
inundada para a construção da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga. Após a
inundação, apenas o topo da Igreja do Sagrado Coração de Jesus ficou
visível. Hoje, por conta da estiagem, o volume do Lago de Itaparica
reduziu e praticamente metade da estrutura do templo pode ser
visualizada. As algarobas ao redor da construção também podem ser
vistas, bem como uma caixa d'água de uma escola da velha cidade. A
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) informa que o volume
útil da barragem atualmente é de aproximadamente 16%. No último período
chuvoso, o armazenamento máximo do reservatório de Itaparica foi de
44,3%.
Caixa d'água de escola estava submersa e voltou a aparecer (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
A situação prejudica as principais atividades econômicas do lugar. A
agricultura, baseada na fruticultura irrigada, registrou uma baixa na
produção. Dos aproximadamente 2.000 agricultores, praticamente todos tem
a terra mas não estão plantando mais nada. "As estações de bombeamento
dos perímetros irrigados já não conseguem captar a água suficiente para
atender a demanda dos plantios que existem. Isso já paralisou a produção
do município e apenas fruteiras que já estavam produzindo continuam a
produção", explica ao G1 o secretário municipal de
Desenvolvimento Econômico, Turismo e Pesca, Rogério Viana. Para a
agricultora Joana Nogueira fica a tristeza de não poder continuar o
cultivo. "Tenho minha propriedade e sou impedida de plantar no meu
próprio lote porque não é garantido a água", conta.
Na piscicultura, os pescadores tiveram que se adaptar ao novo nível da
água. Segundo o secretário, 90% do que se produz de peixe é em tanques,
redes ou gaiolas que são colocadas dentro do lago. Esses equipamentos
são colocados em lugares pré-determinados pela Agência Nacional de Águas
(ANA). Porém, por causa da estiagem, eles precisam ser levados para
locais de maiores profundidades, que tenham mais oxigênio. Com isso, os
custos da produção são elevados e muitos peixes não se adaptam e morrem.
"Antes quando ela [barragem] tava cheia, nós pegava até uma tonelada de
peixe aqui. Por semana. E hoje em dia para você pegar 150 quilos dá
trabalho para você pescar. Nós pegamos 150 quilos agora, no período de
uma semana", lamenta o pescador Reginaldo Campos dos Santos. Tô pedindo a
Deus que é para que o lago encha de novo que é para nós pegar mais
peixer de novo, né?", desabafa.
A prefeitura realiza algumas ações para minimizar os efeitos da seca.
"Temos disponibilizado equipamentos para abertura e limpeza de canais de
aproximação, para que os agriculutores irrigantes consigam captar a
água. Estamos articulando um grande encontro de instituições para
discutir a situação atual. Ver quais são as perspectivas de chuvas. E
quanto pretende-se baixar o nível do lago para que em cima disso possa
ser feito um planejamento. A gente trabalha também com a hipótese das
chuvas serem insuficientes e chegar ao caos, numa situação que a
agricultura irrigada tenha que parar", observa o o secretário municipal
de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Pesca. Já em relação à pesca,
uma reunião está marcada com representantes do Ministério da Pesca e
Aquicultura (MPA) para definir ações.
Agricultora Lucicleide Maria do Nascimento (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
As comunidades rurais também sofrem com a estiagem. A agricultora
Lucicleide Maria do Nascimento trabalha em uma produção agrícola mas não
cultiva nada em casa. Ainda assim, a família dela tenta controlar a
quantidade de água utilizada para consumo humano, pois a localidade
costuma ficar até três dias seguidos sem o líquido até para beber. "Tem
que economizar bastante para não faltar. Quando a água chega nós
colocamos em uma caixa d'água para ir usando", diz.
Velha Petrolândia foi inundada em 1988 para construção de hidrelétrica (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Interior da igreja com a estiagem (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
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