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sábado, 2 de julho de 2016

Independência do estado da Bahia

                             

 
Independência do estado da Bahia


02-07-1823 D.C.

Ao custo de muitas vidas, em um dia como este, no ano de 1823, foi decretada a independência do estado da Bahia após um movimento iniciado dois anos antes. A partir de então, a então província passou a fazer parte da unidade nacional brasileira. A luta pela independência na Bahia veio antes da brasileira, contudo só se tornou realidade quase um ano após o 7 de setembro de 1822. Além disso, ao contrário da pacífica proclamação às margens do Ipiranga, o processo baiano foi conflituoso e violento. Ao longo da luta pela emancipação baiana, os interesses estavam divididos: de um lado, havia os portugueses interessados em manter a província como colônia; do outro brasileiros, liberais, conservadores, monarquistas e até republicanos se uniram em um interesse comum de uma luta que estava efervescendo há alguns anos.
                                        
A declaração de independência feita por Dom Pedro I, em sete de setembro de 1822, deu início a uma série de conflitos entre governos e tropas locais ainda fiéis ao governo português e as forças que apoiavam nosso novo imperador. Na Bahia, o fim do domínio lusitano já se fez presente no ano de 1798, ano em que aconteceram as lutas da Conjuração Baiana.


No ano de 1821, as notícias da Revolução do Porto reavivaram as esperanças autonomistas em Salvador. Os grupos favoráveis ao fim da colonização enxergavam na transformação liberal lusitana um importante passo para que o Brasil atingisse sua independência. No entanto, os liberais de Portugal restringiam a onda mudancista ao Estado português, defendendo a reafirmação dos laços coloniais. As relações entre portugueses e brasileiros começaram a se acirrar, promovendo uma verdadeira cisão entre esses dois grupos presentes em Salvador. Meses antes da independência, grupos políticos se articulavam pró e contra essa mesma questão. No dia 11 de fevereiro de 1822, uma nova junta de governo administrada pelo Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo deu vazão às disputas, já que o novo governador da cidade se declarava fiel a Portugal.


Utilizando autoritariamente as tropas a seu dispor, Madeira de Melo resolveu inspecionar as infantarias, de maioria brasileira, no intuito de reafirmar sua autoridade. A atitude tomada deu início aos primeiros conflitos, que se iniciaram no dia 19 de fevereiro de 1822, nas proximidades do Forte de São Pedro. Em pouco tempo, as lutas se alastraram para as imediações da cidade de Salvador. Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os principais palcos da guerra. Nessa primeira onda de confrontos, as tropas lusitanas não só enfrentaram militares nativos, bem como invadiram casas e atacaram civis. O mais marcante episódio de desmando ocorreu quando um grupo português invadiu o Convento da Lapa e assassinou a abadessa Sóror Joana Angélica, considerada a primeira mártir do levante baiano. Mesmo com a derrota nativista, a oposição ao governo de Madeira de Melo aumentava.


Durante as festividades ocorridas na procissão de São José, de 21 de março de 1822, grupos nativistas atiraram pedras contra os representantes do poderio português. Além disso, um jornal chamado “Constitucional” pregava oposição sistemática ao pacto colonial e defendia a total soberania política local. Em contrapartida, novas forças subordinadas a Madeira de Melo chegavam a Salvador, instigando a debandada de parte da população local. Tomando outros centros urbanos do interior, o movimento separatista ganhou força nas vilas de São Francisco e Cachoeira. Ciente destes outros focos de resistência, Madeiro de Melo enviou tropas para Cachoeira. A chegada das tropas incentivou os líderes políticos locais a mobilizarem a população a favor do reconhecimento do príncipe regente Dom Pedro I. Tal medida verificaria qual a postura dos populares em relação às autoridades lusitanas recém-chegadas. O apoio popular a Dom Pedro I significou uma afronta à autoridade de Madeira de Melo, que mais uma vez respondeu com armas ao desejo da população local. 

Os brasileiros, inconformados com a violência do governador, proclamaram a formação de uma Junta Conciliatória e de Defesa instituída com o objetivo de lutar contra o poderio lusitano. Os conflitos se iniciaram em Cachoeira, tomaram outras cidades do Recôncavo Baiano e também atingiram a capital Salvador. As ações dos revoltosos ganharam maior articulação com a criação de um novo governo comandado por Miguel Calmon do Pin e Almeida. Enquanto as forças pró-independência se organizavam pelo interior e na cidade de Salvador, a Corte Portuguesa enviou cerca de 750 soldados sob a liderança do general francês Pedro Labatut. As principais lutas se engendraram na região de Pirajá, onde independentes e metropolitanos abriram fogo uns contra os outros. Devido à eficaz resistência organizada pelos defensores da independência e o apoio das tropas lideradas pelo militar britânico Thomas Cochrane, as tropas fiéis a Portugal acabaram sendo derrotadas em 2 de julho de 1823. O episódio, além de marcar as lutas de independência do Brasil, motivou a criação de um feriado onde se comemora a chamada Independência da Bahia. As sucessivas lutas entre baianos e portugueses, apesar de terem feito muitas vítimas, terminou com a vitória das tropas locais, num dia histórico em que não houve um herói, mas que o povo saiu vencedor – 2 de julho de 1823.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Batalha de Puebla



05-05-1862


A data de 5 de maio é significativa na história do México e também da América: em primeiro lugar, a Batalha de Puebla marcou a vitória das forças do Exército Mexicano, comandado por Benito Juárez (presidente mexicano 1858 -1872), contra um dos mais poderosos e capacitados exércitos como foi o da potência francesa, dirigido pelo imperador Napoleão Bonaparte (Napoleão III). E por outro lado, a derrota do Império Francês, que truncou os objetivos de estender a monarquia até o Centro e a América do Sul para prover de matéria prima e comércio a Europa. Em 1861, devido à instabilidade financeira causada pela guerra mexicano-americana, o Congresso Mexicano acordou em suspender os pagamentos da dívida exterior durante dois anos.
 
Os credores na Europa (Inglaterra, Espanha e França) decidiram que a intervenção seria a melhor maneira de cobrar a dívida. Mais tarde, a Inglaterra e a Espanha conseguiram negociar por via diplomática os termos e condições nos quais se pagaria posteriormente a dívida. Enquanto isso, Napoleão III, governante da França, decidiu invadir o México para estabelecer uma monarquia favorável à Europa. Com esse fim, deveria dissolver o Governo Constitucional Juárez e colocar um rei que respeitasse sua autoridade, escolhendo para tal Maximiliano de Habsburgo, que não pôde aspirar ao trono do Império Austro-Húngaro.
 
O Presidente Juárez deu ordem ao General Ignacio Zaragoza de deter o avanço das forças armadas francesas nos fortes de Loreto e Guadalupe, próximos à cidade de Puebla. Em 5 de maio de 1862, os canhões ressoaram e os rifles dispararam, e mais de mil (1.000) soldados franceses caíram mortos. Os mexicanos haviam ganho a batalha. Maximiliano finalmente foi derrotado e capturado em 15 de maio de 1867; foi julgado por uma corte marcial e executado por um pelotão de fuzilamento em 19 de junho deste mesmo ano. Embora a guerra não tenha terminado aí, mas apenas 5 anos depois (1867), a batalha de Puebla se tornou desde então para os mexicanos um símbolo de resistência contra a invasão de tropas extracontinentais.

A Dinastia de Bragança



05-05-1640


A Dinastia de Bragança é uma das dinastias reinantes em Portugal. Foi fundada por João IV em 30 de maio de 1640, que também reinou entre 1640 e 1656. Depois foi sucedido por seu filho Alfonso VI, que assumiu de 1656 a 1683, e que por sua vez foi sucedido por seu irmão Pedro II, que reinou entre 1683 e 1706. Ao falecer Pedro II, assume seu filho João V (desde 1706 até 1750). No ano de 1750 subiu ao trono José I (1750- 1777), cuja filha Maria de Bragança, herdeira do trono, casou-se com seu tio Pedro de Bragança (irmão de José I), e ambos reinaram conjuntamente como Maria I e Pedro III.
 
 Em 1807, quando os exércitos do imperador francês Napoleão Bonaparte entraram na Espanha e ameaçaram Portugal, a família real fugiu para o Brasil e estabeleceu primeiro na Bahia, depois no Rio de Janeiro a sede do governo. Enquanto isso, o exército francês ocupava o reino português, mas foi derrotado em 1808 por tropas inglesas sob o comando do militar irlandês Arthur Wellesley, depois primeiro duque de Wellington (capital da Nova Zelândia).
 
Pela Convenção de Cintra, de 30 de agosto de 1808, os franceses foram obrigados a abandonar o país, mas voltaram a invadi-lo um ano depois. Wellington interveio e freou o avanço francês e, em 1811, Portugal se liberou definitivamente da influência invasora. A família real portuguesa decidiu de qualquer jeito permanecer no Brasil, que em 1815 foi declarado como seu novo reino. Em 1816, João VI subiu aos dois tronos, governando Portugal através de um Conselho Regente.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Antes do Descobrimento

Na imagem, a linha imaginária da Bula Inter Coetera (em pontilhado).

No dia 04 de maio de 1493, é concluída a bula papal Inter Coetera II, que dava aos espanhóis todas as terras a 100 léguas a oeste e sul dos Açores e Cabo Verde.Com a recusa dos portugueses em aceitar a delimitação da bula papal, foi assinado, um ano depois (1494), o Tratado de Tordesilhas.


Durante o século XV, Portugal seguiu conquistando novas terras na Costa Africana. Nessa época a Coroa Espanhola iniciou sua expansão marítima em busca das Índias.

A disputa por novas terras coloniais iniciou um conflito entre Portugal e Espanha. Com receio do crescimento espanhol no setor comercial por vias marítimas, Portugal ameaçou entrar em conflito com os espanhóis, caso suas possessões fossem desrespeitadas. A Espanha recorreu ao papa Alexandre VI com o intuito de evitar uma guerra e poder auxiliar nessa rixa.

A Bula inter Coetera  foi definida como um tratado em Maio de 1493, do Papa Alexandre VI, onde determinava que o “novo mundo” era dividido entre Portugal e Espanha.

A Bula Inter Coetera procurou acordar e assegurar os direitos de Portugal e de Espanha. As novas terras descobertas por Cristóvão Colombo seriam da Espanha e, para Portugal a costa da África. A Portugal foi determinado como sendo suas, as terras encontradas até 100 léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde, já para a Espanha, todas as terras que fossem descobertas fora desse limite, lhe pertenciam.

Porém, um detalhe considerável veio à tona, a 100 léguas de Cabo Verde só havia o Oceano Atlântico. Claro que Portugal solicitou uma revisão para esse impasse onde foi negociado o Tratado de Tordesilhas, onde uma nova medida foi determinada, a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde. O tratado de Tordesilhas vigorou por mais de dois séculos.

Essa nova determinação faria com que Portugal assegurasse sua autoridade sobre parte dos territórios do Brasil. A coroa portuguesa receberia a foz amazônica e consequentemente toda a bacia do Amazonas, onde pelos rios ficaria fácil ingressar em um continente que eles não conheciam. A descoberta foi efetuada sete anos após o tratado.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Genocídio armênio


Você já ouviu essa história? Há mais de 90 anos, o povo armênio quase foi exterminado pelos turcos. E, até hoje, luta pelo reconhecimento internacional do massacre, que vitimou 1,5 milhão de pessoas

Yuri Vasconcelos | 15/04/2013 15h57





Era 24 de abril de 1915. Na manhã daquele Sábado de Aleluia, em meio às comemorações da Páscoa cristã, cerca de 600 intelectuais, políticos e religiosos da comunidade armênia que viviam no então Império Turco-Otomano, atual Turquia, foram presos sob a acusação de conspiração e traição. Com a Primeira Guerra Mundial incendiando o planeta, os turcos, aliados dos alemães, lutavam contra a Tríplice Entente, formada pela Inglaterra, França e Rússia, e acusaram os armênios de apoiar as tropas inimigas. Enviados para a prisão de Mehder-Hané, na capital Constantinopla, hoje Istambul, os líderes armênios acabaram sumariamente executados. Muitos foram fuzilados e outros enforcados em praça pública. A ação, coordenada pela cúpula do partido governista Ittihad, conhecido como partido dos Jovens Turcos, deu início a uma das piores atrocidades da história da humanidade: o genocídio armênio, um sangrento massacre em que morreram cerca de 1,5 milhão de pessoas. Estima-se que, naquela época, o Império Otomano abrigava por volta de 2 milhões de armênios.

Passados mais de 90 anos da tragédia, muitos historiadores acreditam que o genocídio fez parte de um processo de limpeza étnica, com a intenção de eliminar o povo armênio. Ou seja, uma versão turca do Holocausto, que matou, segundo estimativas, entre 2 e 5 milhões de judeus. Os assassinatos foram meticulosamente planejados por um triunvirato que estava no comando do país, formado por Mehmet Talaat, ministro do Interior e futuro primeiro-ministro turco, Ismail Enver, ministro da Guerra, e Ahmed Jemal, ministro da Marinha. Uma série de telegramas, tornados públicos depois da matança, revelavam detalhes do plano de extermínio. A estratégia era diversificada, mas a maior parte das vítimas morreu durante longas e penosas jornadas de deportação que tinham como destino o deserto de Der-El-Zor, localizado no território sírio, naquela época parte do Império Otomano. "Os turcos alegavam que os armênios precisavam deixar suas casas por causa do avanço das tropas da Entente e organizavam caravanas de morte, formadas por mulheres, crianças e idosos. Muitos levavam a chave de casa, achando que iriam voltar", diz o professor de geopolítica James Onnig Tamdjian, de 39 anos, neto de armênios que sobreviveram ao genocídio. "No meio do caminho, os armênios sofriam abusos. As mulheres eram violentadas, seus filhos raptados e a maioria morria de fome, sede, doença ou frio. Os poucos que chegavam aos campos de concentração tinham poucas chances de sobreviver."

Já os homens morriam assassinados no front de batalha da Primeira Guerra. Se antes eles não podiam nem integrar as forças armadas turcas, agora haviam sido convocados para se alistar no Exército. Só que não podiam pegar em armas. "Enquanto cavavam trincheiras, eram executados pelos próprios soldados otomanos. A convocação para o serviço militar foi um pretexto para deixar as aldeias desprotegidas", afirma Tamdjian. Há relatos também de vilas e povoados destruídos, saqueados e incendiados pelas forças turcas e por milícias apoiadas pelo governo central. E as atrocidades não paravam por aí. "Muitos armênios foram queimados vivos nas aldeias. Outras vezes, a tortura consistia em enterrar a vítima até o pescoço para, logo em seguida, cobrir o rosto com cal virgem ou sal. As jovens armênias eram vendidas como escravas e as crianças eram encaixotadas vivas e atiradas no Mar Negro", relata Nubar Kerimian, no livro Massacres de Armênios. "Os padres também eram queimados amarrados em cruzes, como Jesus, e os fetos, arrancados dos ventres das mães, jogados para o ar e aparados na espada."

O genocídio atingiu mais fortemente as comunidades campesinas e de pequenas localidades da Anatólia, a região montanhosa que compreende a porção asiática da Turquia moderna. Naquela época, a Armênia Oriental, atual território da República da Armênia, era protegida pelos russos, inimigos declarados dos turcos. Nas grandes cidades do Oeste, como Constantinopla, a presença de estrangeiros inibia os massacres, já que o governo otomano tentava esconder da comunidade internacional as atrocidades perpetradas dentro de suas fronteiras. Mesmo assim, as notícias sobre os massacres acabaram vazando e chegaram ao conhecimento de governantes de outros países, que condenaram a ação, mas não tomaram medidas para evitar a matança.

O período mais duro do genocídio ocorreu entre 1915 e 1918. Quando a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim, os turcos, derrotados, foram forçados a assinar o Tratado de Sèvres, que tornou independente Síria, Egito, Líbano, Palestina e, também, Armênia. As escaramuças entre turcos e o povo armênio, no entanto, haviam começado bem antes daquele sábado da Semana Santa. Entre 1894 e 1896, quando o Império Otomano encontrava-se em franca desintegração, estima-se que entre 100 mil e 300 mil armênios tenham sido executados. "Em muitas cidades, propriedades armênias eram destruídas. Os assassinatos aconteciam durante o dia, presenciados pela população", diz o historiador Edwin Bliss, autor do livro Turkey and the Armenian Atrocities (A Turquia e as Atrocidades Armênias, inédito no Brasil).

A justificativa para esses massacres, ordenados pelo sultão Abdul-Hamid II, foi uma suposta colaboração armênia com os russos, considerados inimigos do Império. Entre 1877 e 1878, a Rússia entrou em guerra contra os turcos e saiu vitoriosa, conquistando largas porções da Armênia Ocidental que estavam sob domínio otomano. Além disso, as autoridades turcas queriam frear o ímpeto separatista dos armênios, que reivindicavam a independência. No final dos anos 1880, o movimento nacionalista ganhou forças e três partidos revolucionários (Armenakan, Hentchakuian e Federação Revolucionária Armênia) foram formados, fazendo com que Abdul-Hamid II, em represália, elevasse os impostos sobre a comunidade armênia. "O que fez com que os armênios apoiassem os russos foram as péssimas condições em que viviam no Império, onde eram alvos de agressões e tinham direitos limitados. Esse cenário fez com que eles se armassem e formassem milícias para defender suas vilas e aldeias", afirma James Tamdjian.

A terceira e última fase das atrocidades começou em 1920 e estendeu-se por três anos. Depois de desfrutar dois anos de independência (entre 1918 e 1920), a República da Armênia havia sido anexada à nascente União Soviética. Desta vez, a violência foi dirigida a armênios que haviam retornado às suas casas na Anatólia Oriental após o final da Primeira Guerra Mundial. As execuções, torturas, expulsões e maus-tratos foram arquitetados e promovidos pelo governo nacionalista de Mustafá Kemal Atatürk, considerado o pai da Turquia moderna. Em 1923, a população armênia na Turquia estava restrita à comunidade existente em Constantinopla.

Embora os armênios tenham sido trucidados pelos turcos, é importante dizer que durante muito tempo esses dois povos viveram em harmonia. A porção de terra conhecida como Armênia Histórica, que hoje engloba a República da Armênia e parte da Anatólia (veja mapa na página ao lado), foi conquistada pelo Império Otomano por volta do ano 1375. Durante 600 anos, os turco-otomanos formaram um dos mais poderosos impérios do planeta, que, no seu auge, se estendia pelo norte da África (Argélia, Marrocos, Egito), Oriente Médio (Líbano, Arábia Saudita, Jordânia, Síria, Palestina, Pérsia), Rússia e Europa (Grécia, Hungria, Bulgária, Albânia e a região dos Bálcãs, entre outras). Para manter a unidade e o bom funcionamento do império, parecido com uma colcha de retalhos, tamanho era o número de povos e etnias que abrigava, os governantes adotaram um tolerante sistema chamado de millet, termo turco que quer dizer "comunidade religiosa".

"Cada comunidade religiosa, como a formada pelos cristãos e pelos judeus, gozava de autonomia e funcionava como uma nação não-territorial, participando das trocas econômicas com outras comunidades. Seu líder espiritual era responsável perante ao sultão pelo bom comportamento dos seus", diz o historiador holandês Peter Demant, autor de O Mundo Muçulmano. Os armênios, que desde o século 3 adotavam a religião cristã, formavam um millet. Eles eram considerados bons comerciantes e alguns integravam a elite do Império.

Então, que motivos levaram o governo otomano a tanta violência contra uma minoria que vivia em harmonia dentro do Império? A primeira justificativa foram as aspirações pan-turquistas (ou pan-turanistas), o sonho otomano de reconstruir uma poderosa nação integrando os povos de origem turca que viviam espalhados na Ásia Central, especialmente em regiões do Turcomenistão e Azerbaidjão. Os armênios, por sua posição geográfica, formavam um enclave bem no meio do caminho. Outra motivação para o genocídio, negada pela Turquia (veja quadro na página 38), foi a causa da independência armênia. Há de se ressaltar que, nesta época, o império já enfrentava a desintegração. Os gregos, por exemplo, já haviam conquistado sua autonomia em 1812. "Os turcos temiam os armênios por sua capacidade intelectual e comercial. Cerca de 60% da atividade econômica do Império estava nas mãos dessa comunidade", diz o historiador Hagop Kechichian, doutor em história armênia pela Universidade de São Paulo (USP).

Além de causar a morte de milhões de pessoas e quase exterminar um povo, o genocídio também provocou uma grande diáspora. Hoje, além da população de 3,5 milhões de pessoas da República da Armênia, estima-se que cerca de 2,6 milhões de armênios e descendentes vivam na Federação Russa e na República da Geórgia e pouco mais de 2,5 milhões estejam espalhados pelo resto do mundo, principalmente nos Estados Unidos, Canadá, França, Irã, Argentina, Líbano, Síria e Austrália. No Brasil, a comunidade armênia tem em torno de 60 a 70 mil pessoas. Não importa onde estejam, a luta dos armênios hoje é uma só: o reconhecimento do genocídio pelo mundo.

"Minha família viveu na Armênia Ocidental e fez parte das caravanas de deportados. Meu bisavô materno, antes de escapar para a Síria, presenciou o fuzilamento de três irmãos e do pai. Sua mãe cometeu suicídio. Eles começaram a chegar na América do Sul em 1923. Nós perdemos tudo e tivemos de recomeçar do zero."

Garbis Bogiatzian, 23 anos, nascido em São Paulo

"Minha irmã mais velha morreu de frio durante a fuga da minha famíla para o Líbano. Lembro-me de meus pais contando histórias terríveis, de pessoas sendo degoladas e de mulheres grávidas apunhaladas por policiais turcos que arrancavam seus filhos do ventre. Me recordo de um episódio em que, tentando escapar, alguns conterrâneos entraram numa igreja e foram barbaramente incendiados."

Arusiak Nersissian, 78 anos, nascida em Beirute, Líbano

"Durante o genocídio, meu pai foi separado dos meus avós e enviado para um orfanato. Lá, sofreu abusos. Quando ficou mais velho, fugiu para a Romênia. Depois, para o Líbano. No Brasil, chegou no final dos anos 20. Ele não falava a língua e não conhecia ninguém. Integro o Conselho Nacional Armênio, entidade internacional que luta pelo reconhecimento das atrocidades contra meu povo."

Simão Kerimian, 59 anos, nascido em Bela Vista (MS)

 Versão turca

A Turquia admite que houve uma "terrível mortalidade" entre os armênios, mas nega o genocídio
 

 

No mesmo momento em que se esforça para ingressar na União Européia, a Turquia sofre pressão para reconhecer as atrocidades cometidas contra o povo armênio. Passados 90 anos da tragédia, o genocídio só é reconhecido pela França, Austrália, Argentina, Suécia, Itália, Chipre, Grécia e Uruguai e por organizações internacionais como o Parlamento Europeu, a Comissão de Direitos Humanos da ONU e o Conselho Ecumênico das Igrejas. Os armênios, no entanto, não contam com o apoio oficial dos Estados Unidos, que têm na Turquia o seu mais forte aliado no mundo muçulmano. O país desempenha um relevante papel no xadrez político global e abriga bases da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O governo turco nega que tenha ocorrido um genocídio, apesar de reconhecer que "os armênios sofreram, sim, uma terrível mortalidade", e afirma que agiu para garantir a soberania nacional. O país diz ainda que o número de mortos alegados pelos historiadores é exagerado. "Estudos demográficos provam que antes da Primeira Guerr Mundial menos de 1,5 milhão de armênios viviam em todo Império Otomano. Portanto, alegações de que mais do que 1,5 milhão de armênios da Anatólia Oriental morreram só podem ser falsas", afirma o Ministério das Relações Exteriores da Turquia. "Se por um lado, existe um imenso e profundo volume de conhecimento sobre o holocausto, por outro, grande parte da história do crepúsculo do Império Otomano ainda não foi contada, faltando detalhamento para que conclusões possam ser tiradas sobre o que realmente aconteceu."

 O mapa da morte

A carnificina espalhou-se pelo Império Otomano

Monte ararat

O símbolo nacional dos armênios, local em que os cristãos acreditam ter ancorado a arca de Noé depois do dilúvio, fica agora em território turco. Da capital armênia Yerevan, onde moram 1,2 milhão de pessoas, é possível avistá-lo.

Rota da morte

O destino final das deportações era o deserto de Der-El-Zor, hoje Síria e na época parte do Império Otomano. Estima-se que dos 500 mil armênios deportados, apenas 90 mil tenham sobrevivido.

Cerco de Van

Era uma das mais prósperas cidades armênias no início do século passado. Foi cercada pelas tropas turcas e acredita-se que mais de 50 mil pessoas tenham sido mortas ali. O episódio é retratado no filme Ararat, do cineasta Atom Egoyan, canadense de origem armênia.

 Saiba mais

Livro

Massacre de Armênios, Nubar Kerimian, Igreja Apostólica Armênia do Brasil, 1988 - Traz fotos do genocídio e o depoimento de Naim Bei, turco que participou diretamente do massacre.

Sites

www.armenian-genocide.org - Mapas, dicas de leitura e um esclarecedor FAQ (Frequently Asked Questions) sobre o genocídio.

www.armenia.com.br/hayk.htm#osa - Apanhado histórico dos armênios até a atualidade.

 

 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Batalha de Cordón

20-01-1807
O célebre Cristo de Cordón é um símbolo de fé que conta com mais de 195 anos na área de Cordón. Nas passagens da história teve atuação em diferentes etapas. O benemérito Francisco A. Maciel (militar argentino), faleceu nas proximidades de Cristo de Cordón, na Batalha do Cardal em 20 de janeiro de 1807, lutando contra os invasores ingleses, da qual participou também o ilustre José G. Artigas, como Capitão de Blandengues e, nessa época, como Comissário em Cordón, lutou e foi preso pelos ingleses. Naquela época Cristo estava em frente ao terreno que hoje ocupa a Universidade Mayor de la Roca. Foi conduzido pelos irmãos espanhóis Fernández nos primeiros anos do século XIX e posto por eles na lateral da estrada para Maldonado, em um local devotamente iluminado todas as noites. Quando o Estado comprou os terrenos para edificar a Universidade, precisou modificar a localização do Cristo e foi levado para a Igreja de Cordón e em frente dela está posicionado até os dias de hoje.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O Cangaço: Fatos impressionantes sobre um Brasil fora da lei.

Zé Sereno e outros três cangaceiros de seu bando, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
Essa é uma parte do país que por séculos se manteve oculta, um Brasil quase mitológico de tamanha particularidade. À própria sorte desde que se tem notícia, onde o Estado só comparece para cobrar tributos e a escassez está sempre por perto. Cidades e minúsculos distritos são controlados por figuras que muito bem se assemelhariam a senhores feudais, os coronéis, como eram conhecidos, eram autoridade máxima. Autoridade quase sempre incompatível com as péssimas condições de vida do sertão nordestino.

Foi nesse contexto que surgiu o Cangaço. Um banditismo digno dos clássicos filmes de faroeste, onde criminosos itinerantes driblavam a lei atravessando fronteiras estaduais. Sempre acompanhadas de sangue,  as histórias do Cangaço remetem a pessoas muito humildes que, por um motivo ou outro, se recusaram a seguir a inércia de permanecer sob controle dos coronéis, optando por um caminho incerto que tratava com especial truculência aqueles tidos como seus inimigos. 

Mas o Cangaço não possuía apenas inimigos, entre fazendeiros estrategicamente aliados e outros pobres sertanejos, a opinião pública se manteve dividida. Se os miseráveis insatisfeitos com os abusos dos coronéis se sentiam representados na contestação desaforada daqueles homens e mulheres fora da lei, os frequentes requintes de crueldade e frieza garantiam o medo e a tensão permanente nas cidades por onde passavam os bandos de cangaceiros. 

Maria Bonita, mulher de Lampião, posa para o fotógrafo libanês Benjamin Abrahão junto aos seus dois cães, Guary e Ligeiro, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

O poder absoluto dos coronéis no Sertão. 

Desde os tempos do Império, a falta de interesse do Estado pelo Sertão obteve efeitos sangrentos na região. Entre os mais devastadores episódios de clara resposta à situação negligente e única presença para cobrança de tributos, destaca-se a Guerra de Canudos e o fenômeno de banditismo conhecido como Cangaço. Ambas as experiências possuíam em sua essência o sentido de contestação das figuras conhecidas como coronéis.

Em meio a uma vasta extensão territorial de pouco interesse público, o Império instituiu a titulação de Coronéis da Guarda Nacional para grandes latifundiários Brasil a dentro. Na prática, o governo passou a legitimar uma relação de domínio que já se fazia efetiva desde os tempos coloniais. Os coronéis eram, quase sempre, pessoas que possuíam total influência na atividade econômica de cidades inteiras. O que representava poder absoluto em uma região onde a opção era se submeter ou sucumbir.

Os coronéis eram homens acima da lei. Além da tradicionais forças policias, também submetidas aos seus interesses, eles tinham sua própria "polícia", eram capangas conhecidos como jagunços: figuras armadas que tratavam de fazer a guarda de terras, castigar e executar inimigos de seus chefes. Foi a truculência desses jagunços que deu origem à jornada de diversos cangaceiros motivados pelo desejo de vingança. 
 
Virgínio Fortunato, cunhado de Lampião, posa sorridente junto aos "cabras" e mulheres de seu bando para as lentes de Benjamin Abrahão, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

A vida criminosa como alternativa à miséria e submissão. 

As condições naturais do Sertão são especialmente infavoráveis à vida humana. Os longos períodos de estiagem castigam seus habitantes através dos efeitos consecutivos que a falta d'água produz. O gado morre e as plantações ficam comprometidas, assim, famílias inteiras tentam se equilibrar num contexto de subsistência precária. Quando havia oferta de emprego, ou melhor, de trabalho, ela era ligada ao coronel da região, figura nem sempre louvável.

"Inteiramente só, o sertanejo é um homem abandonado a sua própria sorte, nada lhe resta senão a desesperança. Ou a rebeldia, que é um simples efeito de causas profundas, da ausência de justiça, analfabetismo, precariedade de comunicação, baixos salários, débil capitalismo e um lentíssimo desenvolvimento das forças produtivas."

Pensar nas autoridades da região como figuras de violência e senso de justiça similar aos dos temidos cangaceiros faz com que se compreenda melhor como tantos sertanejos optaram por esse caminho. A vida criminosa não era nada cordial, mas entre fugas e investidas, oferecia o poder de ter tudo aquilo que passava longe da realidade da maioria: ouro, respeito e mulheres (e sobre este último ponto, como é de se imaginar, o estupro era algo recorrente).


Corisco, o primeiro a esquerda, tendo ao seu lado a companheira Dadá e integrantes do seu grupo, 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).
 
O sangrento preço da vida entre os cangaceiros. 

O vermelho é uma cor muito compatível com o trajeto do Cangaço, não apenas pelo coro de luta ou coragem, mas principalmente pelo sangue. Se entre os coronéis, representantes da lei no Sertão, a violência já era evidente, no Cangaço ela era uma assinatura. O traço hediondo da tradicional execução por sangramento era regido pelo punhal, introduzido em pontos vitais de suas vítimas. Para lidar com tamanha rotina, outra característica chamava atenção: a frieza aterrorizante. 

Ao passo que se comandava torturas e execuções, as histórias também falam dos cangaceiros como figuras musicais e risonhas. Como se a vida e a morte fosse (e era mesmo) parte do dia-a-dia daquelas pessoas. 

Já dizia o mítico Rei do Cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião:

"Três coisas eu trago de Pernambuco: dinheiro, coragem e bala."

Bem como a tradição oral transmite, em certa ocasião um sujeito estava cometendo incesto e foi flagrado por Lampião, o cangaceiro separou os dois irmãos e trouxe o rapaz para conversar. Ele falou para o homem que ele devia colocar os seus testículos dentro da gaveta e fechar com chave. Em seguida, Lampião colocou um punhal sobre o criado-mudo e disse "Volto em dez minutos, se você ainda estiver aqui eu te mato".

Assim se construiu uma lenda, e essa é só uma das histórias que se contam até hoje. 
 
O lendário cangaceiro Lampião posa para foto segurando uma edição de um dos jornais que costumava ler, "O Globo", 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

A opinião pública dividida entre amor e ódio.

Lampião já era uma lenda viva antes mesmo de sua vida ser documentado pelo corajoso jornalista Sírio-Libanês, Benjamin Abrahão.  Tratado pela polícia dos estados como uma verdadeira praga a ser exterminada, temido por onde passava, ainda assim ganhou a simpatia de muita gente. Virgulino tinha a confiança de gente de diversos setores da sociedade: coronéis, sertanejos e até mesmo a igreja, representada pelo inigualado Padre Cícero, a quem se deposita regionalmente o prestígio de uma santidade. 

A situação de considerável apoio da sociedade pode se amparar no senso de justiça em crítica à força oficial vigente. O respeitado historiador britânico, Eric Hobsbawn, em uma de suas obras (Bandidos/1969), apontou o Cangaço brasileiro como um exemplo claro do fenômeno do banditismo social, que se alinhava ao princípio de contestação, como um sentido primitivo de revolta. 

“O ponto sobre bandidos sociais é que eles são criminosos camponeses a quem o senhor feudal e o Estado enxergam como criminosos, mas que permanecem dentro da sociedade camponesa, e são considerados por seu povo como heróis, como campeões, vingadores, lutadores pela justiça, talvez até mesmo líderes de libertação e, em qualquer caso, homens para serem admirados, ajudados e apoiados. Esta relação entre o camponês comum e o rebelde, bandido e ladrão é o que faz o banditismo social interessante e significativo.”
Eric Hobsbawn

Volantes do estado da Bahia em registro de Benjamin Abrahão, circa 1936. (Benjamin Abrahão/Acervo Abafilm).

Volantes: a polícia especial dos estados treinada com as mesmas práticas dos cangaceiros.

Por décadas a República simplesmente amargou a inferioridade de suas forças diante do preparo e conhecimento preciso dos bandos cangaceiros. Equipados com cangas de madeira e utensílios metálicos (daí o nome cangaço: canga+aço), esses grupos eram compostos por homens (e também, muito raramente, mulheres) de invejável experiência de combate, sempre furtivos e ágeis.

Nas cidadelas invadidas, a polícia costumava ser ínfima e sem a menor condição para impedir investidas tão bem articuladas. Quando chegava algum reforço capaz de enfrentá-los, os cangaceiros simplesmente desapareciam em rotas de fuga que os levavam para outros estados, onde somente as forças policiais correspondentes poderiam atuar.

A reação dos estados foi precisa: responder na mesma moeda. Foram constituídas as chamadas forças volantes, o braço cangaceiro da polícia, formadas por homens (alguns deles até ex-cangaceiros) de preparo e práticas de combate idênticas às dos bandos criminosos. Assim, rotas de fuga, abrigos e investidas furtivas estavam mais sujeitas a falhas. 
 

O encontro de Abrahão com o bando de Virgulino, em foto tirada pelo cangaceiro Juriti. Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado, Quinta-Feira, foto de 1936. (Acervo Abafilm).

O jornalista libanês que documentou a vida dos cangaceiros.

Figura responsável pelos mais preciosos registros iconográficos do Cangaço, Benjamin Abrahão Botto conheceu de perto, por vários meses, a rotina de diversos bandos cangaceiros, inclusive os dos notáveis Corisco e Lampião. Ele foi por muitos anos secretário de Padre Cícero em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, até que com a morte do sacerdote em 1934, colocou em prática seu projeto mais ambicioso: filmar e fotografar Lampião e seu bando.

Se aproveitando da ligação de Lampião com Padre Cícero, Abrahão facilmente se aproximou do cangaceiro. Lampião era uma figura extremamente vaidosa, característica que o consolidava como Rei do Cangaço, se deixando acompanhar pelo jornalista. O material coletado ao longo de cerca de 2 anos (1936 e 1937) era de extrema preciosidade e foi recebido nas grandes metrópoles como um verdadeiro escândalo. O Cangaço era uma ofensa ao Estado Novo de Getúlio Vargas, que tratou de censurar e confiscar o registro de Benjamin. 

“As fotos e filmes de Benjamim eram um atestado da incompetência das forças policiais e uma afronta ao Palácio do Catete”
Frederico Pernambucano de Mello

O Sírio-Libanês Benjamin Abrahão trouxe a público relatos detalhados sobre a rotina e características dos bandos cangaceiros, o que pode ter sido nocivo à estratégia dos bandos, cada vez mais combatidos em esfera interestadual. Em menos de três anos a maior parte dos principais bandos foi desmantelada, inclusive com a execução de Lampião (1938) e Corisco (1940). O próprio Benjamin também teve seu fim em 1938 (dois meses antes da morte de Lampião e seu bando), vítima de nada menos que 42 facadas em um assassinato até hoje não esclarecido. Segundo o historiador Frederico Pernambucano de Mello, a mesma força que matou Lampião, matou Benjamin: o desmoralizado Estado Novo. 

“Antes que o Estado Novo espatifasse o sistema de poder do sertão, era alto negócio para qualquer fazendeiro comercializar com o cangaceiro. O Estado Novo acabou com esse colaboracionismo. A morte de Benjamin foi, sobretudo, uma queima de arquivo histórica.”
Frederico Pernambucano de Mello
 
 
Cangaceiro Barreira posa junto à cabeça de seu ex-companheiro de bando, Atividade, como prova de lealdade à volante. 

Um cerco que se fechava: a falência dos bandos e o fortalecimento do combate ao cangaço.

Com o passar dos anos, a forma que o Estado tratava o Cangaço era cada vez mais madura. A segunda metade dos anos 1930 foi especialmente difícil para os bandos cangaceiros. Um a um, os criminosos iam sucumbindo ou se entregando em troca da anistia. O marco do fim dos tempos do Cangaço foi a emboscada que executou Lampião, Maria Bonita e diversos membros de seu bando. Suas cabeças foram expostas ao público em muitas cidades do Sertão nordestino.

“Naquela época, Lampião mobilizava grossos capitais. Travava com coronéis da região que financiavam seus roubos e recebiam parte do lucro. Seu bando era a imagem do sucesso da organização fora da lei."
Frederico Pernambucano de Mello

O fim do Cangaço foi causa direta da insatisfação com tamanha desmoralização do Estado Novo causada pelas imagens de Abrahão. Não só como atividade marginal, mas também como exemplo escancarado da corrupção de coronéis colaboradores, o Cangaço era uma afronta a Getúlio Vargas e sua proposta ideológica. E sistematicamente pagou o preço da visibilidade que adquiriu.

Cadáver do cangaceiro Cirilo de Engrácia, morto por civis e usado como exemplo pela volante alagoana. A cabeça de Cirilo já havia sido decepada, foi recolocada para a foto. 1935. (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).



Cabeças cortadas de membros do bando de Lampião, incluindo o próprio e sua parceira, Maria Bonita, mortos em uma emboscada em Porto da Folha, Sergipe. Elas foram expostas como troféu na escadaria da Prefeitura de Piranhas, no estado de Alagoas, este episódio simbolizou o fim dos tempos áureos do Cangaço. Foto de 1938 (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).

Cabeças dos cangaceiros expostas em Santana do Ipanema/AL, 1938. (Autor desconhecido/Acervo Sociedade do Cangaço).

O médico legista Charles Pittex segura as cabeças mumificadas de Lampião e Maria Bonita, elas ficaram expostas por muitos anos na Faculdade de Medicina da Bahia, foto de 1939. (Autor desconhecido).

Fontes:
 http://www.historiailustrada.com.br
HOBSBAWM, E.J. Bandidos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1969.
MELLO, Frederico Pernambucano. Guerreiros do sol – violência e banditismo no nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa Editora, 2004.
http://cebes.com.br/2014/07/a-historia-do-odio-no-brasil-por-fred-di-giacomo/
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1472857&tit=O-cangaco-segundo-Graciliano-Ramos
http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/a-morte-de-lampiao-9394818
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/um_sertanejo_das_arabias.html
http://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalrs/marcosclemente.html
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,iconografia-do-cangaco-traz-revelacoes-sobre-lampiao,869874
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/sobrecultura/2013/05/entre-deus-e-o-diabo-1
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL703549-5598,00-CONHECA+AS+SEIS+PRINCIPAIS+LENDAS+SOBRE+LAMPIAO.html


Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco.