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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

REVOLTA DA CHIBATA



REVOLTA DA CHIBATA


Acadêmico: Tanardo Santos
                                                Professor : Carmem Lúcia Jorge Fraga
Centro Universitário Leonardo da Vinci- UNIASSELVI
Curso de História (HID 0186) – Módulo V
06/06/2013


RESUMO
Neste trabalho de pesquisa será abordada a revolta da chibata, revolta esta, que ocorreu no Rio de Janeiro em novembro de 1910. Pode ser considerado um grito desesperado das praças da marinha de guerra do Brasil, na tentativa de por fim aos castigos físicos a que eram submetidos sempre que seus superiores achavam em qualquer das suas atitudes contravenção disciplinar ou mesmo crime. Eles tomaram alguns navios fundeados na Bahia de Guanabara e apontaram seus canhões para a cidade e ameaçavam bombardea-la caso suas reivindicações não fossem atendidas, o governo apelou para diplomacia, convenceu os revoltosos a deporem as armas e desembarcarem dos navios e em sua ingenuidade acreditando na palavra do presidente atenderam ao que foram presos, considerados criminosos, expulsos da marinha e perseguidos até seus últimos dias de vida.
                                          
Palavras- Chave: Revolta. Canhões. Presos

                                                                                                                                 

1 INTRODUÇÃO

            A presente pesquisa sob o referente tema vai propiciar uma analise mais profunda  a respeito do tema proposto na prática Educativa V.  Há 103 anos, ocorria na cidade do Rio de Janeiro um importante movimento social a Revolta da Chibata começou mais precisamente na noite de 22 de novembro de 1910. Nesse período era comum o oficial punirem os marinheiros em suas atitudes consideradas contravenções disciplinares, com castigos físicos. Havia diversos níveis de punições e faltas consideradas graves eram punidas com 25 chibatadas.

           No entanto na fatídica noite, a revolta eclodiu, pois um ato de um comandante foi considerado a gota d’água e os marujos resolveram tornar públicas suas insatisfações: o Marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250 chibatadas, por ter ferido um colega a navalhadas e o motivo foi que esse colega, um Sargento viu o referido marinheiro entrando no navio com duas garrafas de bebida alcoólica. Fato esse ocorrido dentro do encouraçado Minas Gerais, primeiro navio a ser tomado pelos amotinados.
             Ainda que o estopim para a revolta tenha sido aceso após o cruel espancamento sofrido pelo já citado militar, há quem diga que a rebelião já vinha sendo considerada já há alguns anos antes, pois seus lideres, principalmente João Cândido em suas viagens ao exterior tinha contato com militares de outras marinhas e obtinha relatos de que eram bem tratados e não sofriam os castigos a que eram submetidos os marinheiros Brasileiros.
           E o esqueleto do que viria ser a Revolta da Chibata foi o levante ocorrido na Rússia nos mesmos moldes. “A Revolta do Encouraçado Potemkim”. As condições de trabalho e vida dos marujos eram bastante sofridas, o soldo era baixo, a comida e a água, ruins e o trabalho bastante duro. E essa revolução russa em sua época tinha reivindicações idênticas.
           Era a República já em consolidação, no entanto para os marinheiros era como se não fosse, as mínimas faltas eram castigadas com o tronco, a solitária, a ginástica punitiva, palmatória e chicotadas (essas aliadas ao tronco), à semelhança do que ocorria nos anos de escravidão. Um fator que piorava tudo era a soberba dos oficiais, muitos de famílias abastadas orgulhavam-se de seu "sangue limpo" e desprezava os marinheiros que eram negros, mulatos e caboclos muitas vezes mandados á força para servir nos navios.
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  A Revolta nasceu dos próprios marinheiros para combater os maus-tratos e a má alimentação da Marinha e acabar definitivamente com a chibata na Marinha. e o caso era este. O primeiro grãozinho foi na organização dos comitês, já com título de comitês revolucionários. A intenção era aquela, logo que tivéssemos o elemento inicial para impormos às autoridades, a revolta teria que vir. Depoimento de João Cândido no Museu Imagem e Som, 1968.

                         









                            Figura: 1- Capitão Batista Neves, comandante do Minas Gerais primeiro navio a se rebelar, e conhecido por aplicar com rigor a chibata. Foi morto durante os confrontos pela tomada do navio.

                                 Fonte: Disponível em:  www.Brasilescola.com.br Acesso em:

 
2 DESENVOLVIMENTO

            As primeiras notícias acerca da revolta que tomava forma foi recebida através de um telegrama endereçado ao ministro da marinha, onde os revoltosos após já terem sob seu total controle o navio scoult Bahia e os encouraçados São Paulo e Minas Gerais, este o mais poderoso que a marinha possuía naquela época. No telegrama os marujos afirmavam que a revolta tinha como objetivo acabar com os castigos corporais na marinha e ameaçavam, caso não fossem atendidos bombardear a cidade.

             Ao que, com aprovação do presidente o ministro dá a seguinte resposta “O Ministro da Marinha, em nome do Presidente da republica, declara que reclamações, quando justas e baseadas na lei, só podem ser atendidas quando feitas com subordinação e respeito aos poderes constituídos”.

Coisa que há muito esses marinheiros vinham pleiteando “Respeito” e apenas recebiam tratamento que não era dispensado nem a animais e em resposta à mensagem do ministro reafirmaram seu pedido pelo fim da chibata e a disposição em bombardear a cidade bem como os navios que não aderiram a revolta. E com isso a situação foi piorando, outros navios aderiram à causa e passaram a ostentar em seus mastros a bandeira vermelha que era o símbolo da revolta. Houve enfrentamentos em certos navios o que deixava a solução do conflito cada vez mais difícil com relatos inclusive de assassinatos uns deles de maneira cruel


 Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910 Ilmo. e Ex.mo Sr. Presidente da República Brasileira Cumpre-nos comunicar a V. Ex.a, como Chefe da Nação brasileira: Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo.Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os oficiais, os quais têm sido os causadores da Marinha brasileira não ser grandiosa, porque durante vinte anos de República ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Ex.a faça aos marinheiros brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha brasileira; bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir à Nação brasileira. Reformar o código imoral e vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não têm competência para vestir a orgulhosa farda, mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha.Tem V. Ex.a o prazo de 12 horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada.Bordo do encouraçado São Paulo, em 22 de novembro de 1910.Nota: Não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro.Marinheiros.(MARTINS, Hélio Leôncio. A Revolta dos Marinheiros).
                                                                                                   
           A citação mostra a carta dos marinheiros que foi a segunda comunicação manifestada após a resposta do ministro da marinha. A rebelião buscava em pouquíssimo tempo uma prática corriqueira e que se baseavam num código português chamado Artigos de Guerra, que foi adotado pelos oficiais na Marinha de Guerra logo após a independência do Brasil. Essas leis permitiam o uso da chibata, da palmatória e outros castigos corporais semelhantes.
           Todos sabiam que as Forças Armadas usavam o castigo corporal para punir marinheiros e soldados indisciplinados. E isso dificultava o recrutamento que muitas vezes os oficiais tinham de recrutar homens à força a fim de a Marinha não ficar entregue às moscas.
A Guerra do Paraguai foi uma das razões para se pensar no fim dos castigos corporais em militares. Afinal, como bater em soldados e marinheiros que haviam sido vitoriosos, verdadeiros “heróis” nos campos de batalha? Por outro lado, nas últimas décadas do século XIX, a escravidão começou a ser cada vez mais combatida por abolicionistas e pelos próprios cativos. Várias leis foram criadas para terminar com a escravidão, entre elas a de 1887 que proibia o castigo corporal em escravos. Ora, então como permanecer castigando fisicamente marinheiros que eram homens livres? Além disso, em 1888, os marinheiros mostraram nas ruas do Rio de Janeiro que eram bons de briga: fizeram do centro da cidade um campo de batalha lutando contra a truculenta força policial, para resolver rixas antigas entre os dois grupamentos. A pancadaria foi tão grande que a princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II, saiu de Petrópolis onde estava e demitiu o Barão do Cotegipe (1815-1889), principal opositor à lei que iria abolir a escravidão. Em suma, um dia após a proclamação da República, no dia 16 de novembro de 1889, o Ministro da Marinha decidiu extinguir os castigos corporais em marinheiros.                (MAESTRI, Mário. disponível em http://cafehistoria.ning.com/profiles/blog/list?user=09zjekwoa13aj acessado em 25/05/2013).



                        Figura: 2- Marinheiro Marcelino Rodrigues Cicatrizes deixadas pelo castigo com as 250 chibatadas
                         Fonte: Disponível em:diariodeummarinheiro.blogspot.com Acesso em: 05/03/2013

            No entanto, após seis meses, começou por parte dos oficiais uma a cobrança por novas leis para castigar marinheiros. Foi ai que o ministro decidiu pelo retorno dos castigos físicos, e de uma forma mais pesada. Agora, o marinheiro indisciplinado passava por um verdadeiro suplício comandado por oficiais.

            Além do castigo de chibata ele teria rebaixamento de salário e de posto, prisão, humilhações na caserna, etc. Tudo isso estava previsto no Decreto n. 328, de 12 de abril de 1890, que criou a “Companhia Correcional” o instrumento legal no qual estavam todas as regras para os castigos.
             Essa companhia futuramente daria origem aos regulamentos disciplinares das forças armadas. Depois desse decreto começaram as revoltas de marinheiros. “A primeira grande revolta ocorreu em 1893, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e outras aconteceram no Rio de Janeiro e em Mato Grosso”.
             O objetivo dessas revoltas era o fim dos castigos ou a troca do oficial que gostava de bater demais e, não, o fim das leis que permitiam o uso de castigos físicos. E ai residia a grande diferença com a revolta que realmente Pôs fim aos abusos.

A Revolta nasceu dos próprios marinheiros para combater os maus-tratos e a má alimentação da Marinha e acabar definitivamente com a chibata na Marinha. E o caso era este. Nós que vínhamos da Europa, em contato com outras marinhas, não podíamos admitir que na Marinha brasileira ainda o homem tirasse a camisa para ser chibateado por outro homem”. (João Cândido, Depoimento ao Museu da Imagem e do Som, 1968).
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              Consideradas “justas” por uma parcela da opinião pública, ainda que por outra e inclusive pela Marinha que até hoje não aceita e repudia a ação dos revoltosos, as reivindicações mesmo que tenham chegado a publico de forma violenta e através dos canhões, que enquanto não eram ouvidas as reivindicações, “cantaram” sobre a cidade matando duas pessoas inclusive.
              Os marinheiros foram anistiados e receberam a promessa de que suas reivindicações seriam ouvidas. No entanto, após a rebelião pela qual passou o Batalhão Naval que sem negociação nem anistia foi brutalmente debelada pelas forças do Exército e da própria Marinha.
              Ainda que os amotinados liderados por João cândido não tenham tomado parte nos combates e continuando nos navios tomados. O Presidente Hermes da Fonseca, porém, após decretar estado de sítio puniu brutalmente os amotinados das duas rebeliões com deportações para o Acre, assassinatos, prisões e torturas.
             Dessa forma, os que foram anistiados na revolta da chibata, mesmo sem tomar parte na revolta do batalhão naval, foram considerados como envolvidos e punidos como tal. O que colabora para que se chegue a conclusão de que essa já era a ideia inicial.
             O episódio das prisões na ilha das cobras onde hoje funciona o presídio da marinha guarda uma das histórias mais macabras que aconteceu após a revogação da anistia. Cerca de 20 marinheiros foram presos numa cela onde alguns historiadores afirmam que era de pedra, abafada e sem ventilação fora limpa com cal a fim de desinfetá-la.

            Outros afirmam que a cal fora jogada propositalmente para deliberadamente matar os lideres da revolução que tanta vergonha apresentou à sociedade, há ainda os que afirmam que a cal era para evitar o mau cheiro dos baldes onde os prisioneiros faziam suas necessidades.

            Independente da teoria aceita o certo é que, devido ao medo que a oficialidade tinha de novos motins, aqueles que não se rebelaram não tinham a total confiança dos superiores e dessa forma, por não confiar no carcereiro o oficial responsável, após trancar as celas onde estavam presos aqueles que tinham participado das revoltas, ao final do expediente foi para sua casa e levou consigo as chaves das celas.

             Os militares, sufocados pela cal gritavam e pediam ajuda para sair do local e o pessoal de serviço ainda que quisessem ajudar, ficaram impossibilitados, uma vez que não possuíam as chaves das celas.
            João Cândido,apesar da repressão e da marginalização impostas pelo Estado, conseguiu seu intento de jovem e a preservação moral de sua imagem.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

              Após este estudo de pesquisa, consideramos, salvo melhor juízo, atribuir razão aos marinheiros no seu pleito, foi necessário tornarem públicos seus anseios uma vez que com a conversa e os pedidos pacíficos não foram sobremaneira ouvidos. Há de se ressaltar que apesar das mudanças que a partir da revolta, se processaram na marinha, ainda hoje as praças são tratadas com certo descaso pelas autoridades, onde ainda impera em alguns dos oficiais o sentimento de grandeza e aristocracia onde podem e recebem tudo e para as praças o que sobra. Ainda hoje o plano de carreira das praças é pouco atrativo com constantes mudanças de regras que nunca são para melhor, ao contrário do que acontece com os oficiais que tem suas carreiras fluídas como água e quando há mudanças, estas são para melhorá-la, os soldos voltaram a ser relativamente baixos (no entanto há que se fazer justiça esse é um problema das forças armadas).

A Revolta da Chibata pode ser encarada como mais um daqueles momentos em que a sociedade, ou pelo menos parte dela, dá um basta aos absurdos cometidos pelo poder instituído. Imagine! 1910 e os marinheiros da Marinha Brasileira eram castigados pelos seus superiores com surras de chibata Os baixos salários, a péssima alimentação e os castigos corporais vinham a algum tempo gestando a revolta. A condenação do marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes a uma surra de 250 chibatadas precipitou o conflito. Liderados pelo marinheiro negro João Cândido, "o Almirante Negro" como ficou conhecido, os marinheiros rebelados na Baía da Guanabara tomaram quatro dos maiores navios de guerra brasileiros e ameaçaram bombardear a Capital Federal. Exigiam melhor alimentação e o fim dos castigos corporais. Vitoriosos no seu intento, o Congresso Nacional aprovou o fim da chibata. A repressão ao movimento contudo, veio traiçoeiramente. Os rebelados, que haviam sido anistiados pelo Congresso Nacional, acabaram ilegalmente presos pelo governo - Hermes da Fonseca era presidente - e acabaram muitos deles mortos nas masmorras da ilha das Cobras. João Cândido sobreviveu falecendo na miséria em uma favela do Rio de Janeiro no ano de 1969. (Disponível em: www.libertaria.pro.br acessado em 25/05/2013).

               Desta forma pode-se verificar que somente com uma atenção que deve ser voltada a provisão de bem estar para o seus servidores, haja vista a necessidade crescente de engajamentos em longas missões no exterior, bem como na manutenção da lei e da ordem interna do pais, afim de se evitar episódios sangrentos como o abordado nessa pesquisa, para obtenção de direitos que já são assegurados, é  necessário um bom senso dos superiores hierárquicos no atendimento dos pleitos que lhes são apresentados e boa vontade para atendê-los. Evitando dessa maneira que episódios como o apresentado na pesquisa, em algum momento volte a ocorrer.


                                                           REFERÊNCIAS

MARTINS, Helio Leôncio. A Revolta dos Marinheiros 1910.Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1988
MAESTRI, Mário. disponível em: www.arquivo.ael.ifch.unicamp.br acessado em 25 mai. 2013.
Disponível em:  http://www.ihgb.org.br/dicbio.php?id=00071 Acesso em: 25/02/2013

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